Endometriose: a dor incompreendida


No Brasil, cerca de 6 milhões de mulheres em
idade fértil têm essa doença, cujo diagnóstico pode demorar até 10 anos para ser esclarecido

Inicialmente, devemos lembrar que endométrio é o tecido que reveste o útero e que é eliminado mensalmente com a menstruação e novamente formado. Esse tecido pode se desenvolver indevidamente em outros locais, como ovários, trompas, intestinos, bexiga e paredes uterinas. Ele adere a parede dos órgãos – formando nódulos e provocando inflamações – que causam:

  • dores, muitas vezes intensas e incapacitantes para o trabalho, mas, ainda assim, tidas como simples cólicas menstruais “algo próprio da mulher” e até como “ frescura;”
  • infertilidade, associada a aderências em trompas e ovários, endometriomas ovarianos e adenomiose, além de todo o processo inflamatório associado a doença. Cerca de 80% dos casos de infertilidade, em pacientes com endometriose, podem ser revertidos com tratamento cirúrgico adequado e/ ou fertilização in vitro;
  • menstruação abundante com anemia profunda, consequente ao sangramento.;
  • dor durante e após relação sexual é uma importante queixa e muitas vezes mal entendida pelos parceiros e escondida pelas mulheres;
  • dor para urinar ou dor ao enchimento vesical;
  • constipação intestinal com fezes ressecadas, dor ao evacuar e diarréia no período menstrual;
  • dor pélvica contínua, pior no período menstrual;
  • discriminação no ambiente de trabalho e até na família pela repetitividade do quadro de dor, das queixas e afastamento das atividades laborais;
  • vontade de se isolar do mundo, deitada em um quarto, colocando compressas quentes no abdome, por não ter outra alternativa.

Considerada uma patologia impactante, a endometriose é uma doença complexa, multifacetada, uma vez que pode comprometer vários órgãos e tem diferentes formas de manifestações clínicas, comprometendo muito a qualidade de vida da paciente. O fato é que a mulher, acometida por estes sintomas, não deve subestimá-los, mas, sim, deve buscar a elucidação diagnóstica.

Entende -se atualmente que, de todos os fatores relacionados a endometriose, o de maior importância é o desconhecimento de que os sintomas descritos, tidos muitas vezes como banais, constituem uma doença desgastante que, além de comprometer a qualidade de vida da portadora, gera muita frustração envolvendo projetos pessoais e afetivos.

O ginecologista, Dr. Alexandre Brandão Sé, do Instituto de Endometriose de Brasília, esclarece que “a negligência relacionada as dores pélvicas é muito prejudicial, pois cronifica o sofrimento, leva a paciente a perder tempo de tratamento e permite a progressão da doença, que pode evoluir para infertilidade.” E acrescenta: “Cólicas incapacitantes, que incidem mensalmente, associadas aos outros sinais e sintomas já citados, devem ser valorizadas, investigadas, o diagnóstico esclarecido e o tratamento adequado proposto.”

As principais formas de tratamento envolvem:

  • uso contínuo de hormônios anticonceptivos para a inibição do ciclo menstrual e, consequentemente, da proliferação do endométrio;
  • anti-inflamatórios, analgésicos e antiespasmódicos;
  • a intervenção cirúrgica, minimamente invasiva por laparoscopia ou robótica, pode ser necessária quando a doença compromete o intestino, as vias urinárias, em casos de infertilidade ou dor que não melhore com o tratamento clínico;

Quanto as causas da endometriose, ainda são incertas, mas, acredita-se que esteja relacionada a alguns fatores como: a menstruação retrógrada, quando o conteúdo menstrual, incluindo células do endométrio, retorna pelas trompas, ao invés de ser eliminada, alterações no sistema imunológico e hereditariedade.

“Ressaltamos que as mulheres devem estar atentas ao funcionamento do seu organismo, valorizando desvios da normalidade como dor intensa, constipação crônica e dificuldade para engravidar, mesmo que outros digam que isto seja normal ou que vai passar logo e buscar avaliação médica especializada, evitando, assim, a continuidade de doenças para as quais há tratamento,” conclui Dr. Alexandre.

Alexandre Brandão Sé